"Quem tem tempo de educar"
Trecho retirado do Cap. 2, págs. 14-15
Falamos de novos tempos, vivemos uma outra dinâmica de vida, mas a educação de crianças e jovens não acompanha as mudanças. Sabemos que a família está precisando da parceria das escolas, que ela sozinha não dá conta da educação e socialização dos filhos; sabemos,também, que crianças e jovens estão desatentos nas escolas por não receberem atenção em suas famílias, e como decorrência, apresentam dificuldades de aprendizagem e de relacionamento, mas está difícil dar passos decisivos, competentes para resolver essa questão. A escola precisará ressignificar conceitos e construir novas práticas para atender as necessidades dos alunos de hoje.
As possibilidades de aprendizagem de crianças e jovens dependem da qualidade das mediações dos adultos a que ela seja exposta em seus vários momentos de vida. Sem essa mediação, eles podem não ter acesso aos códigos culturais, aos valores e significados sociais, às múltiplas linguagens de seus pares, instalando-se a dificuldade em aprender. Como educadora e psicopedagoga, interesso-me e procuro ter uma escuta muita especial para as questões da família que têm repercussão na escola, bem como sobre o reflexo do processo de escolarização vivido no desempenho social de crianças e jovens. Também pratico o exercício de entender que aprendizagens se fazem necessárias para que se considere um aprendiz apto e instrumentalizado para uma adequada inserção social e para pleno exercício da cidadania.
É nessa perspectiva, e a partir desse olhar, que gosto muito de observar famílias em seu dia-a-dia, de ouvir queixas de professores, enfim, de acompanhar como espectadora as pessoas e suas vidas, praticando o que teorizam ou dizem que gostariam de fazer, mas por inúmeros motivos não fazem. Essa escuta informal é diferente da que tenho no consultório, ou mesmo em encontros de formação, pois, quando pais ou professores me procuram para falar sobre suas dificuldades, em função da situação de um consultório, acabam "“caprichando"” um pouco mais em seus relatos. Observo, assim, rasgos de conversas, broncas de familiares e de professores no ato espontâneo, pois acredito que é nessa hora que se pode vislumbrar o conceito de homem, de mundo e de educação que é vivido e praticado. Numa ação/reação espontânea, as pessoas se revelam e demonstram suas crenças e aprendizagens.