Os limites da escola, enquanto instituição, foram suficientemente explorados, através da sólida produção científica, especialmente nos anos 70. Todos os educadores tem um débito para com as áreas da sociologia, da história, da economia, entre outras, por contribuirem com exaustivos estudos desveladores do idealismo pedagógico presente nas representações sobre a escola.
Políticas públicas foram estabelecidas para garantir maior acesso às crianças das classes populares. Enquanto alguns espaços escolares receberam tratamento especial através de projetos arquitetônicos diferenciados, outros tiveram escassa manutenção. Ao mesmo tempo, profissionais da educação sofreram tratamentos diferenciados conforme os períodos eleitorais. Ao lado desse quadro, os pais mantiveram sempre uma expectativa de garantia da "credencial" da escola como documento indispensável para a mobilidade social de seus filhos.
Durante a década de 80, mais para seu final, começaram a surgir no cenário da educação reflexões que superavam a denúncia discursiva e, em seu lugar, colocavam desafios concretos: a busca de uma escola contrária ao processo de exclusão (reprovação e expulsão). A partir de então, surgem novas alternativas na formação de professores, especialmente daqueles já em atividades de sala de aula, através de iniciativas do poder público e de organizações não governamentais. A universidade, através de pesquisas pioneiras baseadas em autores como Freire, Piaget, Ferreiro, e outros contribui para a superação dos impasses no processo de aprendizagem, especialmente quanto à alfabetização, que o senso comum reproduzia.
É importante relacionar este processo de retomada do pedagógico por parte de pesquisadores e de assessores de professores (sistema) com a redemocratização do país. Essa sacudida que a sociedade vivia oportunizava o surgimento de propostas educacionais que iam além daquelas de cunho homogeneizador. As diferenças dentro do espaço escolar também se manifestavam, legitimamente, na sociedade.
O livro da Jaqueline é uma demostração correta de como é possível "construir" uma escola possível para as classes populares. No seu específico estudo sobre a alfabetização de crianças em duas escolas públicas de Porto Alegre se compreende a importância do professor alfabetizador qualificado por uma formação teórico-metodológica baseada em Freire, Piaget, Ferreiro e Terebosky. Aí está a interface dessa ação cotidiana da sala de aula com o movimento mais amplo da não exclusão social. No presente estudo se pode entender como o "ato pedagógico", do professor alfabetizador, se manifesta identificado com a profunda e humana característica do diálogo onde ação e reflexão se conjugam harmoniosamente em torno do "objeto" do conhecimento a ser desvelado.
Ao leitor fica a impressão de que devem existir muitas situações semelhantes ao exposto neste livro. O que tem faltado é a vontade política das quais a autora se municiou para socializar a positividade das situações pesquisadas. Além disso, nossa expectativa tem aumentado em relação aos novos administradores do Estado, na tentativa de tornar tais situações mais concretas nos diferentes contextos. Entretanto, asseguramos, esta é uma pista insuficiente. É indispensável a apropriação dessa positividade pelos pais das crianças que frequentam nossas escolas públicas e somente, através de movimentos fruto do conhecimento sobre o que está "acontecendo" com seus filhos é que podem pressionar os gerentes do Estado. O poder público deve ser aliado nesse processo e não o único proponente de mudanças.
O entusiasmo que a leitura do trabalho de Jaqueline oportuniza se pode resumir na expressão: "DA ESPERANÇA" (que poderia ser o subtítulo de seu livro).